terça-feira, 24 de novembro de 2009

E ai ela morreu com lágrimas nos olhos. O carro veio da direita, o sinal estava piscando no amarelo. Ninguém viu, ninguém disse nada, não fez barulho. O farol veio, bateu na água do olho, refração, reflexão... arco-íris. Ela morreu com um arco-íris nos olhos, e com uma leve dor atrás da orelha esquerda. Coisa leve, coisa de nada.

Ela nunca tinha passado por lá, era coisa nova, indefinida. Rua bem iluminada para ter batidas de carro até. Nunca tinha dito metade das coisas que pensava por medo, e morreu tentando compensar o atraso. Não gritou, não. Sussurou o começo de uma frase mal construída. Em outros tempos, teria retirado o que disse, pela organização erronea da linguagem que tanto prezava.

Mas não deu tempo. O fenômeno pouco sentimental da carbonização tomou conta do momento sublime. Queimou cada centímetro que ela reclamava do próprio corpo. E voltou ao pó, de onde, segundo velhos manuscritos, havia saído há algum tempo atrás.

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