segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A rua cheia de comércio estava vazia. Completamente. Num clima de domingo no fim do dia, mas ainda estava claro. Chovia. Entre os feixes de luz, a água se intrometia como quem quer participar da conversa sem ser convidada. No canto esquerdo, perto da loja de doces, ele, sentado. Joelho dobrado, braço esquerdo esticado, direito apoiando a cabeça. A chuva molhava o rosto meio sem sentido. Sabe quando o rosto não tem mais razão pra existir? Ele olhava pra frente e pra baixo.

Na sua linha de olhar, calçada oposta da rua, perto da papelaria, ela. Pernas também cruzadas, mas era o braço esquerdo que segurava o queixo, que segurava as lágrimas. Funcionavam como espelhos, percebe? Não conversavam, mas agiam como se fossem um se olhando através do outro.

As lágrimas que caíam eram um mero elemento criado por um cenógrafo sem graça - ou sei lá, uma bandeirinha branca levantada pelo que os clichês que movem as mulheres consideradas modernas. O importante pra se saber aqui é que ela também olhava pra frente em alguns momentos.

Se era uma briga, um recomeço ou uma despedida ninguém nunca vai saber.

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